top of page

Cacau bate recordes e supera Bitcoin como o ativo mais valorizado de 2024

  • Foto do escritor: Gregório Ramon
    Gregório Ramon
  • 7 de jan.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 16 de jan.

Em 2024, o mercado de commodities viveu um momento histórico: o cacau ultrapassou o Bitcoin como o ativo mais valorizado do ano.


Com uma alta impressionante de 185% em seu valor, a matéria-prima essencial para a produção de chocolate consolidou seu lugar no topo em meio a uma crise global de oferta e à crescente demanda por produtos premium. Esse marco destacou a importância do cacau não apenas como um bem de consumo, mas como um reflexo das dinâmicas globais de clima, economia e sociedade.


Essa reviravolta colocou países como Gana, Costa do Marfim e Brasil no centro das atenções, evidenciando tanto as oportunidades quanto os desafios enfrentados pelas comunidades que dependem dessa cultura. Para entender como chegamos a esse ponto, é necessário observar a linha do tempo que definiu o cacau como o grande protagonista de 2024.



A Ascensão do Cacau (Janeiro a Julho de 2024)


Os primeiros meses de 2024 trouxeram sinais de alerta para o mercado de cacau. Regiões produtoras na África Ocidental, responsáveis por mais de 60% da produção mundial, enfrentaram condições climáticas adversas, com secas severas seguidas de chuvas torrenciais. Essas oscilações impactaram profundamente as safras, reduzindo a produção global em cerca de 25%, segundo relatórios da FAO. Foi o maior déficit de oferta em mais de 60 anos.


Foto: Zero Hour Climate
Foto: Zero Hour Climate

Paralelamente, surtos de doenças como a vassoura-de-bruxa e a podridão-parda agravaram a situação, causando perdas adicionais. Enquanto isso, a demanda global por chocolate continuava a crescer, impulsionada por mercados emergentes como China e Índia, e pelo aumento do consumo de produtos premium em regiões desenvolvidas.


“O desequilíbrio entre oferta e demanda é preocupante. Não estamos apenas enfrentando uma crise climática, mas também uma crise estrutural no setor”, afirmou Marie Dufour, analista da International Cocoa Organization.


Pico Histórico (Agosto a Novembro de 2024)


Em agosto, os reflexos dessa crise atingiram seu ápice: os preços do cacau subiram para US$ 3.800 por tonelada, um recorde histórico. Esse desempenho não apenas colocou o cacau como o commodity mais valorizado do ano, mas também superou a rentabilidade do Bitcoin, que registrou alta de 140% no mesmo período.


“Foi um ano desafiador para todos os elos da cadeia. A alta nos preços trouxe lucro para alguns investidores, mas também pressionou fabricantes de chocolate a aumentarem seus custos”, explicou Rodrigo Menezes, economista especializado em commodities.
Foto: Afrik 21
Foto: Afrik 21

As consequências foram amplas: consumidores enfrentaram preços mais altos nos produtos finais, enquanto pequenos agricultores em países produtores continuavam a receber uma fração reduzida desse valor, devido a intermediários e ineficiências na cadeia de distribuição.



Oportunidades e Impactos no Brasil

Foto: Senar
Foto: Senar

O Brasil, apesar de sua história marcada pela vassoura-de-bruxa, vem aproveitando oportunidades pontuais. Regiões como o Pará e o sul da Bahia estão em expansão produtiva, com iniciativas de cacau fino e sistemas agroflorestais ganhando destaque. Pequenos agricultores têm se beneficiado de programas como o Cacau 2030, que promove a sustentabilidade e a capacitação técnica.


No entanto, desafios permanecem. Muitos produtores ainda enfrentam dificuldades para acessar financiamentos e tecnologia, e a informalidade continua sendo um obstáculo para aumentar a competitividade. Além disso, o país ainda exporta grande parte de seu cacau como matéria-prima, perdendo oportunidades de agregar valor com produtos finais.



O Lado Sombrio do Crescimento


Enquanto o mercado celebra o desempenho do cacau, é importante reconhecer seu lado sombrio. Em países como Gana e Costa do Marfim, o trabalho infantil e as condições precárias de trabalho continuam sendo uma realidade para milhares de agricultores. Estima-se que mais de 55% dos produtores na África Ocidental vivam abaixo da linha da pobreza, mesmo diante da alta nos preços.


Foto: Ecolectia
Foto: Ecolectia

No Brasil, embora a situação seja menos grave, ainda há relatos de informalidade e exploração no setor. Além disso, o desmatamento associado à expansão do cultivo, especialmente em regiões da Amazônia, levanta preocupações ambientais.



Perspectivas para 2025 e Além

Com a valorização do cacau, surge a oportunidade de repensar sua cadeia produtiva. Investimentos em variedades resistentes a doenças, sistemas agroflorestais e certificações são passos cruciais para garantir a sustentabilidade e aumentar a justiça na distribuição de riqueza.


“O cacau é um termômetro das desigualdades globais. Ele mostra como riqueza e pobreza coexistem em uma mesma cadeia. A solução exige colaboração internacional e o envolvimento de todos os elos”, concluiu Dufour.


Conclusão


O ano de 2024 mostrou que o cacau é muito mais do que um ingrediente para chocolate – é um reflexo das dinâmicas globais de clima, economia e justiça social. Para o futuro, é essencial que consumidores, empresas e governos colaborem para criar uma cadeia produtiva mais ética, sustentável e resiliente. Afinal, o verdadeiro valor do cacau não está apenas em seu preço, mas no impacto que ele gera para milhões de vidas ao redor do mundo.

Comentarios


Em destaque

bottom of page